Artigo: Violência e Civilidade Virtual

Postada em 20/05/2014

 A revolução causada pela Internet na vida das pessoas tem trazido, além de todos os benefícios conhecidos, uma série de desafios a serem enfrentados. Se, por um lado, o acesso quase instantâneo à informação e à comunicação com as pessoas abre portas para a ampliação de nossas redes de relacionamento, por outro exige a discussão de novos códigos de convivência, que incluem a disseminação maior de uma cultura de respeito, compreensão e responsabilidade na rede. Talvez o exemplo mais claro desse novo desafio seja o da violência virtual.

O uso da rede para a prática da violência virtual (também chamada por alguns de cyberbullying) tem se tornado um problema cada vez mais frequente. Diariamente temos notícias da prática, via Internet ou celular, de calúnias, ofensas, perseguições, disseminação de imagens forjadas (ou não) de pessoas em situações íntimas, divulgação de perfis falsos ou criação de comunidades que promovem perseguições a indivíduos e, até mesmo, discursos de ódio passíveis de punição penal.

É preciso lembrar, claro, que a violência entre crianças e adolescentes não é um fenômeno recente e nem foi criado pela Internet. O que a rede propicia é a amplificação dos efeitos dessa violência, amplificação que provavelmente nem as crianças e nem os adolescentes que praticam o cyberbullying conseguem estimar.

Talvez esse seja um dos principais motivos para que seu uso tenha se disseminado nos últimos anos. Ao postar uma frase ofensiva em um site de relacionamento ou publicar a foto de um desafeto em uma situação vexatória, é impossível prever os efeitos que essa ação pode ter, ou o alcance disso na rede. Menor ainda é a estimativa dos efeitos desses atos sobre as vítimas. O principal objetivo do agressor é causar algum tipo de dano na vítima. No entanto, como não se pode controlar a disseminação da violência praticada e nem o alcance destes atos, também não é possível estimar a extensão do dano causado.

Uma pesquisa publicada em 2012 no “Journal of Scholar Violence”, dos Estados Unidos, conduzida por Allisson Schenk e William Fremouw junto a 799 estudantes universitários, mostrou que cerca de 8% desses estudantes declarou já ter sofrido algum tipo de violência virtual. Ao estudar especificamente esse grupo, os pesquisadores verificaram que eles apresentavam mais sintomas de depressão, ansiedade e paranoia, em comparação com um grupo de estudantes que não relatou ter sofrido esse tipo de violência. Além disso, entre os alunos que declararam ter sido vítimas de violência virtual, foi encontrada maior incidência de ideação suicida ou de tentativas efetivas de suicídio. Esses dados mostram o impacto negativo da violência virtual sobre a vida das pessoas que passam por essa situação.

Civilidade virtual é uma atitude a ser cultivada por todos os que habitam o universo on-line e fazem uso das várias tecnologias de comunicação disponíveis. Isso inclui o respeito pelo outro, suas opiniões, sua forma de viver, de ser e de pensar. Da mesma forma, como temos nos esforçado para cultivar a civilidade nas nossas relações interpessoais “reais”, devemos nos esforçar para criar uma cultura de civilidade também nas nossas relações que são mediadas pela tecnologia. O caminho ainda parece longo, mas aprender é um desafio que precisamos enfrentar.

Andréia Schmidt

Fonte: http://blog.educacional.com.br/blogdepsicologia